Masterchef

Por que os participantes têm “apagão” e não encontram nada no MasterChef

Stefani Sousa

Quem é fã do MasterChef Brasil sabe que muitos participantes, ao entrarem na cozinha, são tomados pela adrenalina e, durante a prova, acabam deixando a emoção falar mais alto. Alguns entregam pratos dignos de chef, outros esquecem ingredientes básicos no mercado, não enxergam os utensílios da cozinha e se perdem no preparo das receitas. Esta sensação de “cegueira”, que muitos julgam como falta de conhecimento ou prática, pode ser explicada pela ciência. É o que mostra, em entrevista ao Portal da Band, o neurologista Leandro Teles, da Academia Brasileira de Neurologia (ABN) e autor do livro “O Cérebro Ansioso”. 

“Nossa função neurológica intuitiva e intelectual oscila bastante ao longo da vida e, quando você está em um momento de maior tensão e estresse, pode ter bastante dificuldade para acessar algumas ferramentas do cérebro, como o rastreamento da memória. Por isso, é comum que o participante não consiga resolver problemas simples ou usar a criatividade.  Nestes momentos, acontece um  bug no cérebro e ele entra em um sistema alternativo de luta e fuga”, pontua. 

Esta sensação de estar perdido também é comum entre atletas em momentos de performance, artistas em apresentações e pessoas em entrevistas de emprego ou provas. “Quem é mais perfeccionistas ou ansioso pode sim ter uma overdose de estresse. Geralmente, isso acontece nos primeiros minutos da atividade e pode ou não ser grave. Se é algo intenso, que perdura por muito tempo ou atrapalha a execução, é bom se preocupa,r pois pode significar uma disfunção no sistema de controle da ansiedade”, explica o especialista. “Também há pessoas que podem passar por essa fase relativamente bem, sentindo apenas um leve desconforto que é natural para os humanos. A gente tem ansiedade, mas ela não pode nos paralisar. O frio na barriga tem que ser discreto, controlado e precisa melhorar com a continuidade da tarefa”, completa. 

Receita do sucesso
Nem toda ansiedade, no entanto, é ruim. Sentir um pouco de adrenalina pode ser ótimo para o desempenho dos cozinheiros na competição. Afinal, os jurados sempre falam que cozinhar é colocar emoção na mesa e, em alguns casos, o sentimento pode ser o ingrediente secreto para uma receita vencedora. “Nossa performance intelectual depende totalmente do nosso estado emocional. Uma pessoa muito fria, que não tem nenhuma emoção na tarefa, também se prejudica. O ideal é ter uma leve ansiedade, que faz com que a pessoa se desligue do mundo e tenha um hiperfoco, mas, claro, com limite”, garante Leandro. 

A tensão causada pelo novo ambiente - que envolve câmeras, tempo e competição -  pode inclusive impactar as funções motoras do participante. Isso explica porque muitos competidores  derrubam os objetos da bancada, erram na dosagem dos temperos e parecem ter dificuldade para manusear ferramentas básicas, como uma panela de pressão, um liquidificador ou uma batedeira. 

A receita do sucesso? “Trabalhe a sua mente, treine com câmeras ou em outras cozinhas, respire e recorde memórias afetivas cozinhando. Assim é possível ir equilibrando o pensamento de angústia com o de naturalidade. Comece por aquilo que é mais fácil e vá ganhando confiança. A melhor performance cerebral é quando a pessoa detém a técnica e está tranquila o suficiente para  se concentrar no que precisa ser feito. A tensão faz parte do show e o bom cozinheiro também tem que lidar com o excesso de pedidos e demanda.”